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Para falar sobre Kick-Ass, primeiro temos que entender seu diretor, Matthew Vaughn. Ele começou sua carreira nos grandes filmes como produtor de filmes como “Jogos, trapaças e dois canos fumegantes” e “Snatch”, ou seja, o cara é da escola Guy Ritchie de cinema. Isso dito, a próxima frase é um tanto quando obvia: Kick-Ass é um filme diferente.

O filme conta a historia de Dave Lizewski (Aaron Johnson) um menino normal, não muito legal nem muito loser, que vive uma vida normal, num lugar normal, e gosta de coisas normais, só que era um pouco inconformado com a violência da cidade em que vivia, até que um dia ele tem a imbecil idéia de comprar uma roupa de mergulho e sair por ai lutando contra o crime e acaba se metendo no meio de mafiosos e outros “super-heróis”

Ok, vamos deixar uma coisa bem clara. Kick-Ass não é um filme de herói, nem um filme de ação, nem uma comédia (como alguns podem ter achado pelos trailers). Kick-Ass é um filme pop, desses que conseguem ser tudo junto e misturado em doses genialmente certas.

Mas atenção! É um roteiro ADAPTADO. Ou seja, ele é uma adaptação dos quadrinhos para o cinema.

Muitas vezes a gente esquece o que isso quer dizer e critica um filme por não ser exatamente igual a sua versão original, mas fato é que algumas coisas que funcionam nos livros, HQs ou games simplesmente não funcionam em um filme de 2 horas. Escolhas tem de ser feitas e, às vezes, muita coisa muda — como no caso de Kick-Ass. Aliás, o roteiro cinematográfico foi escrito ao mesmo tempo que a HQ.

Se você já leu as HQs e espera que seja tudo igualzinho, NÃO É. Mas tente deixar tudo que você sabe sobre essa história em casa, guardado em uma gaveta, e veja o filme como se você não soubesse do que se trata. Vai por mim que a diversão está garantida.

O filme tem como seu principal trunfo o roteiro muito bem escrito por Matthew Vaughn, que tinha acabado de ser cortado da versão cinematográfica de Thor. Em uma troca de e-mails Millar mandou os rascunhos dos dois primeiros números de Kick-Ass pra Vaughn e o cara enlouqueceu e resolveu que ia levar essa história para o cinema.

A história de Millar, assim como o roteiro adaptado por Vaughn, consegue escapar de todos os clichês de filmes de herói e zombar deles ao mesmo tempo, fazendo que tudo que um super herói tem que ter esteja lá, na vida de Dave, mas de uma maneira MUITO natural, como por exemplo: a identidade secreta. Não bastava apenas ser um menino comum, um super herói tem que ter sua identidade secreta bem definida como Peter Parker, o fotógrafo do jornal e o loser da escola; ou Bruce Wayne, o ricão excêntrico e recluso; ou ainda Clark Kent com seus óculos e seu emprego no jornal. Assim como eles, Dave também vira uma caricatura dele mesmo na “vida real” quando a menina que ele gosta acha que ele é gay e Dave confirma só para ser amigo dela.

Isso faz com que a história toda tenha uma veracidade que é difícil de ser encontrada por aí, mesmo nos filmes que tentam muito, como por exemplo a versão cinematográfica deWatchmen. Toda a história construída e os elementos apresentados são bastante coerentes e isso faz total a diferença. Pequenos detalhes como a compra de uma arma pela internet fazem com que todo o resto que parecia absurdo seja explicado. Talvez esse que foi a grande falha de Watchmen seja o grande trunfo de Kick-Ass.

Veja bem, comparar os filmes em sua história e importância, apenas analisando esse ponto que eles tem em comum: a versão para as telas do clássico de Alan Moore pecou ao deixar tudo “heróico” demais visualmente falando. Junto com o ótimo roteiro, Vaughn tem uma despretensão e ironia em sua direção que são marcantes. As bilhões de referências (inclusive uma maravilhosa ao Tarantino), a edição FANTÁSTICA das três grandes cenas de ação, uma com estilo e linguagem completamente diferente da outra, a trilha sonora improvável fazem de Kick-Ass um gigantesco acerto de direção.

hit-girl

Tudo parece possível, plausível. Até a fantástica Hit-Girl, uma menina de 12 anos que seria capaz de dar um pau em qualquer Stallone da vida tem sua historia explicada de tal jeito que faz com que nós espectadores nem passemos perto de pensar “Pô, como uma menina de 12 anos faz isso? Que mentira!”.

Aliás, muito pelo contrario. É tão fácil se identificar com os personagens, especialmente com o genérico Dave, que é muito mais provável que tenhamos um monte de gente pensando “Poderia ser eu!”.

Sendo você fã de heróis tradicionais, fã da HQ original ou só quer ver um filme divertidão Kick-Ass é a mais pura vitória. Só por favor, depois não saia por aí de colantzinho verde.


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